Júlia se sentia completamente sozinha. Seus pais estavam distantes, preocupados apenas com suas notas, enquanto na verdade ela estava com as piores emoções possíveis.
Ela não tinha amigas na escola, era quase invisível para os professores e ainda era zoada pela maioria da sala. Ela era muito tímida e as piadas eram constantes.
No fundo, o que doía mais não eram as brincadeiras infelizes, mas sim a sensação de não ser importante para ninguém ali. O pior era a sensação de ser uma completa estranha para todo mundo.
A pior parte é que ela não tinha ninguém para compartilhar suas dores e dividir a agonia. Isso só piorava o seu estado emocional.
Na hora de dormir, ela ficava revivendo a solidão que sentia na escola e tinha dificuldades para ter um bom sono.
Quando era hora de aprender, ela se sentia insegura, afinal, ela realmente acreditava nos comentários pejorativos dos companheiros de sala. Isso a jogava pra baixo e minava sua disciplina, sua autoconfiança e motivação.
Ela sofria por ser excluída. E esse sofrimento se refletia em todas as áreas da sua vida.
Será que ninguém liga para a Júlia?
Ninguém para, olha para ela, busca saber como ela está se sentindo e tenta ajudá-la?
Todos ficam indiferentes, não prestam atenção e não têm compaixão?
Será que o mundo é formado apenas por pessoas más, frias e incapazes de amar uma criança?
Ou será que essas histórias só comovem em filmes e histórias e quando acontecem na nossa frente a gente não consegue nem prestar atenção?
O mea culpa
O problema disso tudo é que adoramos julgar e olhar para o outro e não paramos para olhar para a gente mesmo.
Se eu falar isso e não olhar para mim mesmo, o que escrevo aqui não faz sentido.
Enquanto aluno, me diverti muito e fiz muitas brincadeiras. Ao mesmo tempo, fizeram muitas brincadeiras comigo. Algumas delas podem ter me irritado temporariamente, mas nenhuma dessas zoeiras me feriu de verdade (felizmente)!
Essas brincadeiras não feriram porque eu tive a sorte de ter tido uma família que me amou muito, o que fez com que eu desenvolvesse uma boa inteligência emocional.
Vários outros não tiveram a mesma sorte.
Mesmo com todo este privilégio, isso não fez com que eu não fizesse brincadeiras ofensivas com vários dos meus colegas.
Já fiz muitas brincadeiras questionando a sexualidade de vários deles, por exemplo. No futuro, descobri que eram gays e me arrependi bastante, mas naquela época eu não tinha essa consciência e este tipo de brincadeira era normalizado.
O fato de eu não ter a consciência não serve como um pretexto e não muda os fatos. Eu provavelmente ofendi pessoas e as fiz sentirem mal com as brincadeiras.
Eu não prestei atenção aos sentimentos dos outros, não me coloquei no lugar deles e, sem querer, agi errado. O mesmo já aconteceu com você?
Está atento ao que acontece bem em frente a você? Olha para as suas próprias ações?
Comece a prestar atenção
Qual é a estratégia adotada para evitar o bullying em sua escola?
A primeira que recomendamos é prestar bem atenção. É ter, na sua instituição, a cultura de se preocupar com o outro.
De ter empatia, compaixão e um desejo genuíno de ajudar os jovens.
Nas escolas, perde-se muito tempo tentando conduzir os alunos em determinadas direções. Enquanto, no fundo, isso é quase um desperdício de energia.
Por exemplo, os educadores continuam querendo que o aluno mude o comportamento para que aprenda melhor as matérias.
Mas nenhum educador quer ir além e entender o porquê do aluno agir daquele jeito. Não estamos falando aqui para ninguém fazer o trabalho de psicólogo ou terapeuta.
Mas a habilidade de nos colocar no lugar do outro é boa até mesmo para a nossa própria felicidade. E ajudar os alunos a melhorarem suas emoções te trará recompensas que nenhum dinheiro pode comprar.
Por isso, antes de tudo, busque prestar atenção. Ter uma preocupação genuína com os alunos, do ponto de vista humano, é o segredo principal para enfrentar o bullying.
Como combater o bullying na escola? Comece a conscientizar e a espalhar a compaixão
Muitos alunos fazem bullying sem ao menos ter noção do impacto das suas ações. Um filme pode ser uma boa forma da sua escola educar e conscientizar os jovens sobre o problema.
O filme Extraordinário traz uma lição valiosa sobre o bullying. A produção conta a história de um garoto brilhante que tem uma deformação no rosto.
Ele é excluído na escola, sofre bullying e fica devastado em seus primeiros dias de aula.
No final, após vários obstáculos, ele consegue superar as adversidades e ser amado de verdade pelos colegas da escola. O filme pode ser alugado no youtube e é uma forma de ajudar as crianças e jovens a olharem sob uma outra perspectiva: a de quem sofre o bullying.
No fim, coloque os alunos para discutirem a história e tente relacionar o problema a outras características relacionadas ao bullying.
Eles precisam tentar se colocar no lugar dos outros para refletirem sobre suas atitudes. Em geral, quando fizerem este exercício, a tendência é não repetirem os comportamentos agressivos.
Nas reuniões de pais, também fale sobre o problema. É legal mostrar vídeos e exemplos de bullying para que os pais sejam comovidos.
Sem entenderem de verdade o problema, é impossível ter compaixão. Sem a real compreensão, podem ficar repetindo frases como “Na minha época não tinha disso”, entre outras falas semelhantes.
Como identificar um bullying na escola?
É bullying quando uma das partes ouve ofensas ou brincadeiras sem de fato estar brincando. Alunos fazem brincadeiras entre si e inventam apelidos, isso é natural.
No entanto, isso se torna bullying quando uma das partes se sente mal e retraída pelo comportamento dos colegas e existe uma tentativa de uma ou mais pessoas em humilhar o outro.
Com isso, o ofendido perde o poder de reação e se sente fraco a incapaz de reagir.
Alguns dos principais sinais de que a criança ou jovem está sendo vítima de bullying:
✔️ Passa a maior parte do tempo isolado
✔️ Tem materiais escolares estragados ou rasgados
✔️ Estudante tem medo de sair sozinho ou não querer ir à escola
✔️ Queda no rendimento escolar
✔️ Tristeza excessiva
✔️ Ausência de amizades e socialização
Após identificar o bullying, é necessário agir. Com os agressores, o diálogo deve ser firme e franco para mostrá-los o motivo de estarem tão errados.
Como diz o psicólogo Augusto Cury, por trás de alguém que fere, existe sempre alguém ferido. Ninguém faz os outros infelizes, sem primeiro se auto agredir.
Ter empatia até com os agressores é difícil, mas é também necessário se deseja realmente ajudar seus alunos a progredirem emocionalmente.
Com a vítima, em muitos casos o diálogo pode também estimular uma melhora de autoestima. Se a pessoa conseguir se amar mais e ter mais autoconfiança, as chances dela ser afetada por esse problema diminuem exponencialmente.
Busque ter uma parceria de verdade com as famílias
Em sua escola, qual o nível de engajamento dos pais? Eles participam e são bem informados sobre tudo que acontece?
Ter com as famílias uma relação próxima e honesta vai ajudar bastante quando diálogos difíceis precisarem ser travados.
É doloroso para os pais saber que o filho está sofrendo ou cometendo bullying, mas eles precisam estar cientes de tudo. Sem esta conversa aberta, as famílias podem estar vivendo em uma bolha na criação dos filhos.
Esteja bem atento ao escolher as palavras, escolha o tom de voz certo e, mais do que tudo, não procure jogar pedras, e sim acolher esses pais e procurar forma de ajudá-los.
Dar exemplos de histórias que foiram superadas e de boas práticas é algo muito positivo a se fazer neste momento.
Um grande desafio para as escolas é mostrar para os pais é que os filhos deles não são os únicos que precisam de amor, compreensão e atenção.
Quando os pais entenderem isso, serão capazes de ter mais empatia, o que deve ajudar também na criação dos filhos, que poderão entender que não são o centro do mundo.
Conclusão
O bullying é um problema grave, e não é apenas um problema da sua escola, e sim um problema da humanidade.
As famílias, as comunidades, a mídia, o poder público, todos devem direcionar esforços a combatê-lo com o objetivo de vivermos em uma sociedade com mais harmonia e com um futuro promissor.
Como lição, podemos dizer que a sua escola deve estar atenta e realmente interessada em ajudar alunos- e os pais – a superarem este mal.
Não sabemos o que outro está passando. Logo, vamos sempre ser gentis, amorosos e cheios de compaixão.
O bullying não acontece simplesmente porque as pessoas são ruins. Somos falhos sim, e muito. Mas podemos ser bondosos, amorosos se começarmos a prestar mais atenção.
Antes de julgar e tomar decisões precipitadas, vamos sempre observar os acontecimentos sobre diferentes perspectivas, para tomarmos melhores decisões.
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